James Watson

James Dewey Watson

Eu, James Dewey Watson, nasci em 6 de abril de 1928, em Chicago, e sou filho do comerciante James D. Watson e de Jean Mitchell. Ingressei na Universidade de Chicago com 15 anos, precocemente, no curso de Zoologia, formando-me em 1947. Realizei minha Pós-Graduação em Ciências biológicas na Universidade Indiana, com alguns cientistas distintos, inclusive com o Nobel Hermann J. Muller, o qual me convenceu a mudar meu interesse em historia natural por genética e bioquímica.


Em 1950, ganhei uma bolsa da Fundação Merck para estudar o metabolismo bacteriano. Primeiro fui para Copenhague e depois para Nápoles, sempre sob supervisão do bioquímico Herman Kalckar. Durante um congresso científico na Itália, conheci o neozelandês Maurice Wilkins, pesquisador do King’s College, em Londres. Wilkins trabalhava para descobrir a estrutura química do DNA. Bingo! Encontrei finalmente o que queria fazer: desvendar o segredo da vida, descobrindo a estrutura do DNA e ficar famoso. Com esse objetivo pedi transferência para o Laboratório Cavendish, em Cambridge.


Lá encontrei Francis Crick, o qual se preparava para o Doutorado em DNA. Nós nos entendemos imediatamente, afinal apesar das diferenças de personalidade e idade, ambos tínhamos em comum uma excessiva autoconfiança e o desejo de decifrar os segredos do DNA.

O grande problema é que mesmo com a somatória dos conhecimentos de nós dois, ainda deixava em um ou noutro uma enorme lacuna em química, biologia e pouca experiência com difração de raios x, técnica essencial para estudar o DNA. Mas, a nossa autoconfiança sem limites nos fez seguir em frente.


Estudamos os achados do químico Linus Pauling que, tentando descobrir a estrutura de biomoléculas complexas, deduziu uma estrutura modelar para proteínas envolvendo uma hélice. Para ele, aquela poderia ser a forma de muitas moléculas complexas, inclusive o DNA.  
Além de Linus Pauling, que trabalhava no Instituto de Tecnologia na Califórnia, Maurice Wilkins e Rosalind Franklin, do King College, ainda que numa parceria problemática, também estavam tentando identificar a estrutura do DNA. O King’s College e o Laboratório Cavendish tinham um acordo de cavalheiros que definiu que o pessoal de Cambridge se preocuparia com as proteínas enquanto os pesquisadores do King’s ficariam com o DNA. Mas nós não pretendíamos respeitar rigorosamente esse acordo.


No King’s, o trabalho de Rosalind Franklin com difração de raios x tinha feito significativos progressos em novembro de 1951. Ela tinha captado as melhores imagens do DNA até aquele momento. Isso a levou a algumas conclusões importantes que resolveu apresentar num seminário em Londres. Seu parceiro Wilkins convidou-me então, para assistir, sem imaginar o quanto eu estava interessado no assunto e da minha intenção e de Crick em passar a perna nos “concorrentes” sediados em Londres. Após o seminário, voltei para Cambridge inspirado e decidido a construir um modelo do DNA baseado no que ouvira. Meu parceiro Crick também acreditava mais em especulações teóricas, no que era irritantemente brilhante, do que em pesquisas desnecessárias. Ambos nos dedicamos à construção de um modelo com três hélices interligadas, inspirados no palpite de Pauling e nas conclusões de Franklin. Porém, não devo ter entendido bem o que Franklin falou e o modelo apresentou várias falhas.


O fiasco de ambos chegou aos ouvidos do diretor de Cavendish, Sir Laurence Bragg. O rompimento do acordo de cavalheiros rendeu uma dura reprimenda a Crick, afinal ele era o mais velho e provavelmente, na visão de Bragg, o qual me teria do bom caminho. O chefe de Cavendish proibiu que fosse feito qualquer outro trabalho com o DNA. Mas nós éramos muito mais ambiciosos do que qualquer um pudesse imaginar. Nós poderíamos estar proibidos de trabalhar com DNA, mas não estávamos proibidos de pensar sobre ele.


Ambos tínhamos pressa e discutíamos a questão com outros pesquisadores, como o matemático John Griffiths, um jovem doutorando, que desenvolveu alguns cálculos mostrando como as quatros bases do DNA (adenina, citosina, guanina e timina) eram atraídas uma pela outra. Enquanto isso, Wilkins imprudentemente continuou a mostrar-nos os progressos feitos pelo King’s College. Em 1952, fiz amizade com Peter, filho de Linus Pauling, que me mostrou uma cópia do artigo que o pai pretendia publicar revelando a estrutura do DNA. Pronto! Tudo estava perdido. Não havia como nós competirem com o maior químico do século. Mas o inacreditável aconteceu. Descobri que Linus Pauling havia cometido um erro. Ele não deu aos grupos fosfatos, que formavam os elos em cada cadeia, qualquer ionização. Não havia assim na estrutura de Pauling carga elétrica para manter as longas e finas cadeias coesas. Um erro primário e era uma questão de tempo para Pauling notá-lo e corrigi-lo.


Nessa corrida, Wilkins mais uma vez inadvertidamente mostrou-me novas imagens do DNA feitas por Franklin. Elas eram espantosas. Após alguns cálculos, conclui que o DNA consistia de duas fitas helicoidais entrelaçadas. Após convencermos o chefe Bragg e recebemos autorização para irmos à frente à construção do modelo. Porém, ainda cometemos alguns erros. Mais uma vez a enorme autoconfiança de ambos serviu para não desistirmos. Revelamos, então, a estrutura em dupla hélice da molécula do ácido desoxirribonucleico (ADN). As investigações proporcionaram os meios para compreender como se copia a informação hereditária. Descobrimos que a molécula de DNA é formada por compostos químicos chamados nucleotídeo. Cada nucleotídeo consta de três partes: um açúcar chamado desoxirribonucleico, um grupo fosfórico e uma das quatro possíveis bases nitrogenadas: adenina (A), timina(T), guanina(G) e citosina(C).


Após solucionarmos o intrincado problema das ligações das bases e seus encaixes na cadeia concluímos o modelo em 7 de março de 1953, cinco semanas após termos iniciado sua construção. A notícia de que pesquisadores de Cambridge tinham descoberto o segredo da vida logo se espalhou. Em 25 de abril de 1953, a revista “Nature” trouxe o artigo “Estrutura molecular dos ácidos nucleicos” assinado por nós dois. Alguns consideraram que nós fizemos de forma inescrupulosa o uso de material desenvolvido pelo King’s College. Entre eles, o comitê do Prêmio Nobel. Em 1962, a descoberta do DNA rendeu o Prêmio Nobel de Medicina a ambos e, também, a Maurice Wilkins. Rosalind Franklin havia morrido em 1958, aos 37 anos, vítima de câncer (desde 1961, o Prêmio Nobel deixou de oferecer premiações póstumas). A estrutura da gigantesca e complexa molécula de DNA revelou a base física e química de hereditariedade.


Depois que completamos nosso trabalho em DNA, ainda apresentamos junto um importante trabalho (1957) sobre a estrutura dos vírus. Após dois anos na Califórnia, no Instituto de Tecnologia, aceitei o convite para integrar o corpo docente da Harvard Universidade, Cambridge, MA (1955-1968), onde fui professor de biologia (1961-1968) e tornei-me diretor do Laboratório Cold Spring Harbor (1968). Casei-me (1968) com Elizabeth Lewis, com quem tive dois filhos: Rufus Robert e Duncan James.

Parei de ensinar (1976) para assumir em tempo integral a liderança do Cold Spring Harbor. Também fui diretor do Projeto Genoma Humano dos Institutos Nacionais da Saúde (1989-1992).


Além do Nobel já recebi muitas honrarias como o honorário da Universidade de Chicago (1961) e a Medalha Presidencial da Liberdade (1977) das mãos do Presidente Jimmy Carter e a Medalha Presidencial da Filadélfia (2000). Entre minhas publicações em livro as mais importantes foram A Biologia molecular do Gene (1965) e a Dupla Hélice (1968). Com John Tooze e David Kurtz escreveu A Biologia Molecular da célula (1983).

De 1988 a 1992, servi como primeiro diretor do Projeto Genoma Humano dos Institutos Nacionais de Saúde, um Projeto maciço para decifrar todo o código genético da espécie humana. Em 2007 aposentei-me de tarefas administrativas em Cold Spring Harbor.